quarta-feira, abril 06, 2005

BMW série 3

Qual a coisa, qual é ela que tem uma hélice azul e branca na dianteira, um poderosíssimo motor, uma estética marcadamente aerodinâmica, um cockpit ergonómico fértil em instrumentos de painel arrojados e onde o piloto a pode levar até aos 250 Km/h declarados? Não, não é um avião. É o novo BMW série 3. De facto para o ser bastar-lhe-iam asas. Contudo estas existem no seio do BMW Group com 2004 a ser considerado o seu ano financeiro de maior sucesso. Os lucros subiram 10.9% traduzindo uma rentabilidade líquida de 3,554 milhões €. Contudo interrogo-me se a este valor foram deduzidas ou não despesas de responsabilidade civil, humana. É que o construtor de Munique, pelo menos até há bem pouco tempo, era um dos poucos que nada fez para colmatar o abuso da utilização de mão-de-obra escrava durante o Holocausto. É preciso ter lata, ainda por cima de excelente qualidade, em declarar tais proveitos financeiros com milhares de semblantes esqueléticos de olhar vazio neles impressos a par das frases contabilísticas, dos cifrões e dos excelentes números. De facto esta constatação fere quase mortalmente a imagem da marca bávara na sua postura como interveniente a nível global. Ferirá? Não é o que demonstram as unidades adquiridas e as demais encomendadas. Talvez quem tenha possibilidade de obter tal automóvel esteja habituado a ser frio, ou ter chegado onde chegou à custa desse, daí não se sentir chocado. De facto é mais difícil ser caloroso, produzir calor humano não físico. Com o sucesso da sua sofisticada oferta bastaria uma mísera percentagem da sua força de vendas para sossegar parcialmente o espírito daqueles que tinham a estrela de David ao peito prostrados ante um Golias de cruz suástica no interior do mesmo. Nem sequer seria pelo valor de numerário, seria pelo acto em si subentender um pedido de perdão, um acto de consternação para com as vítimas. Eu, por exemplo, só estou à espera que a BMW introduza esta subsidiação indemnizatória, esta obrigação de justiça meritória para desfrutar plenamente do “prazer de conduzir”, incluindo o que advém da consciência limpa. O que é um carrito desses para mim?! Um reconhecidíssimo publicitário…Só espero que os povos explorados durante séculos pelo Reino de Portugal não se lembrem de semelhante coisa. Mas também não somos comparáveis a uma BMW. Esta cria valor produzindo veículos que se destinam a chegar a um qualquer destino, enquanto a nossa produção nos leva a nenhures. Tomara termos dinheiro para indemnizar as inúmeras vítimas do Processo Casa Pia, por que até agora só estas vislumbrei, quanto mais…Pode ser que o Eng. Sócrates renove o seu carro de serviço para um Série 3, se inspire e transponha para o País a sua qualidade. Mas aí estaria a contribuir para a referida frieza e o não cumprimento do PEC. Mas também, não foi este flexibilizado, e não é ele sensível…?
O que de facto não anda a par da referida qualidade de construção, design, imagem de um dos automóveis mais emblemáticos do mundo é o outdoor publicitário que acompanha o seu lançamento. Sinceramente “A essência de um desportivo” é dramaticamente injusta em insipiência, quase tanto como a leveza do ser que assume a presidência da empresa impávido e sereno com os rostos da indignação na sua mente. Minha sugestão:

Choque Tecnológico. Sem chocar.

Esclarecimento: Apesar das minhas criticas às organizações alvo de Spot, à excepção dos Brainstorm Públicos, o seu resultado reveste-se de profissionalismo como se a tarefa criativa me tivesse sido atribuída, em nada reflectindo as vicissitudes apontadas no respectivo e antecedente artigo.